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Um momento de realização e de conquista! Representantes do Estado de Minas Gerais e da GPA, corpo docente, presos e familiares reuniram-se para celebrar a primeira formatura após o período de isolamento social. Com direito a beca e diplomas, os alunos das turmas das Unidades I e II concluíram um ciclo importante na ressocialização. Cerca de 80% deles estão aptos e para concorrer a bolsas de estudo de 100% no ProUni a fim de ingressarem em uma faculdade e cursarem o ensino superior (EAD).

Resgate de Vínculo

A cerimônia de formatura é um momento importante de reconhecimento para os presos e que eleva a autoestima e resgate de vínculos  com  familiares e vida social. Esse processo é, para o CPPP, fundamental para a reintegração das pessoas.

A Diretora de Ensino, Miriam Lamas, acredita que, investir na educação de presos é fator de humanização. Ajuda a criar um clima de expectativa favorável para o reingresso na vida social.  A ressocialização é um projeto com finalidade reeducadora com o propósito de oferecer dignidade e reconstruir um futuro melhor durante e após o cumprimento da sentença. “Todos nós enquanto sociedade somos beneficiados, de forma direta e indireta. O Indivíduo privado de liberdade que participa de atividades educacionais durante o cumprimento de pena incentiva os filhos a não interromperem os estudos”.

O Gerente de Atendimento, Ricardo Ferreira, entende que o trabalho para alcançar a ressocialização passa pelo resgate do vínculo. Em sua experiência de vida, ele fala em um tripé fundamental baseado em família, espiritualidade e educação. “O que fazemos aqui é resgatar isso nas pessoas. Colocar uma beca em um preso, que está acostumado apenas com um uniforme vermelho, e oferecer um diploma, ainda que simbólico, é muito importante. E citando a juíza Bárbara, para os familiares, ver um ente querido receber um diploma é muito melhor do que receber uma sentença”.

Todo esse trabalho só tem valor e significado porque os envolvidos acreditam no processo, acreditam na reintegração à sociedade, acreditam no ser humano. Esse é o entendimento do Presidente da GPA, Rodrigo Gaiga, que diz. “A gente acredita que tem que oferecer oportunidade a eles, porque as pessoas podem não ter tido anteriormente a oportunidade desse tipo de acesso a estudo, a trabalho, a profissionalização. E com essas ferramentas, oferecemos a possibilidade de o preso ter a escolha de que caminho seguir”. E todos os esforços de ressocialização – ensino, trabalho e social – seguem esse entendimento, pois fazem parte da visão da GPA enquanto empresa.

Sonho vivo

Para os formandos foi um dia muito especial, um dia para ser feliz, estar com a família e poder se expressar. Dois formandos subiram ao púlpito para discursar. Os oradores falaram sobre sonhos, liberdade e reconhecimento dos erros e mudança de vida.

Um deles citou o Martin Luther King e sua célebre frase: “eu tenho um sonho”:

Coincidindo com esse sonho almejamos que com muito trabalho e dedicação, a sociedade possa nos ver com novos olhos. Lutaremos incansavelmente para remediar esse tortuoso desvio de conduta. Temos plena consciência que vivemos na contra mão da ética e da moral, por isso, à necessidade de adaptação aos novos instrumentos da vida como: conhecimento, educação e altruísmo são primordiais na vida de um recuperando.
Mas convém ressaltar a princípio que sozinho essa transição acabaria sendo árdua e excruciante[…]. Por esse motivo, agradecemos a todos que contribuíram direto e indiretamente para essa grande conquista […]. Todos estamos predestinados a sermos guiados por grandes mestres, e isso é algo imutável, e graças ao bom Deus fomos presenteados com os melhores.

O outro falou sobre a Páscoa, o renascimento de Jesus Cristo, sobre fé e mudança. Uma alegoria sobre a sua própria caminhada e a de seus colegas: “Ele vive, Ele vive”:

E, porque Ele vive, a nossa fé não é morta, mas uma fé viva!
Porque Ele vive, posso crer em um amanhã melhor!
Porque Ele vive, posso crer na minha família transformada!
Porque Ele vive, posso crer que ainda existe esperança!
Porque Ele vive, somente porque Ele vive, posso crer que ainda não acabou, mas existe um futuro melhor!
Que nem mesmo os anos, as décadas, os séculos, os milênios que passaram foram capazes de apagar este grande feito.

Porque Ele vive!

Foram discursos que mostram o impacto da educação, de reconhecimento no desenvolvimento humano e do esforço para reinserção social.

Apenas o começo

A cerimônia contou com a presença ilustre da Juíza de Direito de Ribeirão das Neves Dra. Bárbara Isadora Santos, que falou sobre como a educação é o ponto de partida para todo o processo de ressocialização no sistema carcerário e, que inclusive, pode representar uma redução potencial do percentual de reincidência da pessoa. “A ressocialização começa a partir da educação, porque de fato a educação transforma, a educação ela liberta e ela te apresenta novas possibilidades e novas fronteiras. Certamente, à medida que a pessoa é apresentada a outras possibilidades, o caminho que ela deve trilhar é um caminho diferente do crime”.

Para a juíza, a formatura é um momento que marca de maneira positiva e muito forte a vida dos presos e isso pode iniciar ou até reforçar a vontade de seguir uma caminhada diferente fora do CPPP. “É um momento de congraçamento. Você une profissionais, o sentenciado e a família, então é marcante e de fato pode ligar uma centelha no coração de cada um, para que possa seguir outro caminho quando estiver fora do sistema prisional”.

Uma outra participação foi do egresso Claudio Silva, jornalista da Fundação Cogna/Pitágoras. Ele já esteve no sistema carcerário e foi no CPPP que ele enxergou novas perspectivas, que existe ressocialização para o cumprimento da pena. “Aqui têm pessoas que acreditam na ressocialização”. Contou sobre sua caminhada, e como se dedicou à leitura para se preparar e se destacar nos desafios acadêmicos que pretendia buscar. “Eu li 254 livros, li a Bíblia três vezes e li o dicionário. Esse processo me fez sair parcialmente pronto para que eu pudesse me sobressair e foi exatamente isso que aconteceu. Quando eu fui fazer o pré-vestibular, todas as perguntas que estavam ali, eu tinha as respostas para elas. Eu acertei 99% das questões do vestibular e consegui uma bolsa de 100% para me graduar”.

Claudio falou sobre o poder transformador da educação em sua vida e na vida de todos à sua volta, do ensino como uma oportunidade que, quando abraçada, muda as perspectivas sobre a própria realidade e fornece o repertório para alcançar seus objetivos pessoais. “Através da educação você muda o trajeto da sua vida. E não apenas da sua vida, você muda a trajetória da vida de várias pessoas. A partir do momento que você tem a oportunidade de ser educado e se educa, você abre um leque de vida tão vasto que alcança pessoas inimagináveis. Esse processo na minha vida me fez viver, porque eu sobrevivi. Então, a educação me fez conhecer a vida de fato como ela é e não como eu pensava que ela fosse. [Digo a vocês], não acabou, é apenas o começo”.

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